03 dezembro 2008

No Sotão...

...Um movimento ou som imperceptível levou-me a subir vertiginosamente os degraus e, sem saber como nem porquê, dei comigo no meu sotão pessoal.
Ainda sem perceber o que fazia ali, olhei em volta. Bem no centro, entreaberto e escorrendo faíscas de estrelas, lá estava o baú dos tesouros... Risos, abraços, alegrias e beijos, sonhos em tons de azul, dedos, peles e aromas, entrecortados de carícias e luar, tudo se misturava num fogo de artifício ardente. Até lágrimas lá dormiam, umas felizes, outras tristes, mas todas lágrimas de amor!
Num canto, envolto pela penumbra, outro baú me esperava, atento e silencioso, pronto a devorar-me à menor desatenção. De dentro soava uma voz implacável, qual advogado do diabo, que fazia desfilar perante mim toda a razão pura, fria e cruel da realidade. Feroz e gélida, sem espaço para sentimentos ou emoções, divertia-se a esmigalhar entre os seus sons cortantes todas as notas harmoniosas da doce melodia da minha mente; absorvia todos os tons e as cores subjugavam-se àquela imensa escuridão.
Corri...e abracei a luz brilhante das pérolas tão cuidadosamente recolhidas com toda a força da minha alma e, desmanchada em partículas, dissolvi-me nos tesouros que guardei...