15 outubro 2010

Diálogo

- Quero perder-me em Ti, percorrer o teu corpo saboreando o teu gosto, quero sentir o teu calor, invadir o teu interior, quero ir para Ti e não mais sair, quero ficar na tua pele.
Quero ser esse teu sorriso, esse teu gesto, esse teu sussurar, quero amar-te pela eternidade do tempo, esse que não se mede por fracções mas sim por emoções...
Quero...
Pensamentos soltos que bailam na minha mente, alimentam-se de Ti, percorrem as recordações dos nosso momentos, das nossas longas conversas, das nossos intensos olhares...
E, penso de novo como é possível este querer... Será normal tanto te querer? Será que de tanto te querer te posso perder? Será esse o medo que me faz gemer de dor quando não estás por perto?
Pensei...
- Não, digo com convicção!... - Não, repito com toda a certeza deste mundo que é em Ti que quero ficar, é de Ti que preciso para me completar, é em ti que consigo ver esse tal futuro que tantos falam mas que tão poucos conseguem ter a coragem de construir.
- Sabes... É tão simples amar-te, tão bom sentir que a vida quando vivida profundamente se torna no que muitos procuram e chamam de paixão, essa que de facto não passa de um curto momento em que as carnes se tocam e explodem de pressa. Amar não é nada disso, não é carne, é espirito, é sentir, é dar e não possuir, é ir sem pensar em voltar...
É o eterno orgasmo, o fluir da onda que envolve os nossos corpos entrelaçados num sentimento único e real... Quero-te Meu Amor.

- Então vem, perde-te para eu também me poder perder, percorre-me para que por ti possa passear, invade-me, toma-me completa... toma posse do que já é teu.
Vem e fica. És o meu sorriso, o meu abraço, o meu gesto, todas as minhas razões, fazes viver todas as minhas emoções.
Pensas... Eu penso também e de nós me alimento quando o tal medo intenso de te perder se apodera de mim e me deixa a bailar na dor. Este tanto querer é a razão do meu viver e a tua certeza é a minha certeza também, juntos fazemos um só e só assim conseguiremos continuar a construção que já começámos, esse futuro em que acreditamos e que afirmamos convictamente querer.
Amarmo-nos é realmente simples apenas porque o sentimos profundamente e sabemos que .. esse sentir é a base real para viver.
Queremo-nos, sentimo-nos...amamo-nos. Vamos fazer a realidade...
Então, vamos viver...!

03 outubro 2010

Como Se Escreve...

Como se escreve um beijo...
Que parado ficou no canto dos lábios,
E os olhos trocaram, doce e profundo,
Perdido no gesto que não se fez
Mas se desenha no ar e nos envolve
Numa paz que desce e seduz
...e não acaba mais.
Como se escreve a carícia...
Pensada, querida, desejada,
Presa na ponta dos dedos
Que se provam ao de leve
No roçar da pele escondida
Que num gesto se cruzou.
Como se escreve o abraço...
Que se sentiu apertado nos braços quietos,
Nas mãos que andam sem andar
E se observam e imaginam...
Passeando noutros lugares.
Como se escreve o sol, a chuva e o luar...
O pão, a luz e a sombra
O ar que nos faz respirar.
Como se escreve a imensidão de um mar
O chão que nos mantém de pé
A água que nos mata a sede
A força do nosso viver...e tudo querer partilhar.
Como se escreve o encontro...
Das almas no firmamento
Que de mãos dadas prosseguem
Num suave caminhar
Em paisagens coloridas
Num êxtase de aromas e sabores sem igual.
Como se escreve um universo...
Invisível mas real
Terno, envolvente e profundo
Onde tudo se encontra
Num “para sempre” final...
Como se escreve ...Amar?!....

Naquele Banco

Naquele banco do jardim havia uma silhueta permanente, fizesse chuva ou descesse um tórrido estio em meados do Verão. Aquele contorno parecia amarrado naquele assento fazendo dele a sua eterna morada. Até quando as sombras da noite chegavam se viam aquelas linhas desenhadas contra os fios de luz que desciam do velho e poeirento candeeiro lá no alto.
De dia as aves acorriam em bandos debicando as míseras migalhas de pão que sobravam das parcas refeições de quem ali descansava o corpo tiritante. Já se aproximavam sem medo, conhecendo de longe aquela figura, companheira de tantas horas.
No entardecer, eram os cães que deambulavam por ali que se chegavam, procurando um afago, uma festa, um pouco de afecto...que os mantivesse "quentes" no frio da noite que caía.
De quando em quando levantava-se e dava algumas trémulas passadas, de pernas gastas e arqueadas, como se o peso da vida fosse imenso e os ombros já não o aguentassem. Logo mais, voltava ao refúgio de tábuas de madeira pintada, mas de tinta já estalada e desbotada pela erosão dos dias, de mil sóis, mil ventos e tantas noites de solidão.
Nas mãos já pouco se distinguia das linhas antigas, mas ainda se adivinhava que teriam sido fortes e serenas. O porte, agora já encurvado pelas tristezas, deixava transparecer reminiscências antigas de hombridade e coragem. E aqueles olhos...naqueles olhos ainda se descortinava uma réstia de chama, já quase apagada, mas que certamente terá iluminado muitas vidas...
Um dia também eu me sentei naquele lugar. Quis saber quem eram aqueles traços que desde sempre ali conheci.
Era apenas um homem, uma vida...um ser humano que de solidão vivia, no meio da multidão que passava e lhe dava pedaços de pão...