23 agosto 2009

Ser Mãe

Mais um amanhecer cinzento raiado de sol, em que te procurei na luz que lá de fora me desperta. A confusão aumenta em meu redor em gritos e lágrimas que me doem, em palavras que traçam ameaças e chantagens infantis e patéticas. No meio desta amálgama de sentimentos que não são meus, eu procuro apenas a paz que me transmites e a lucidez que me acompanha quando estás em meu redor. Pressinto que as minhas palavras de nada valem e que apenas me resta assistir a este desmoronar constante de vidas, sem rumo, sem traçado, sem futuro. Quase me sinto cair também naquele estado de semidesistência moribunda e desejo ardentemente a voz que me ajuda a levantar a cabeça e a seguir, confiante, o meu caminho, por entre esta angústia que me consome, os gritos roucos que calo e o nó que me aperta a garganta. Parece que a minha vida se desenrola em duas vidas paralelas e me desdobro em personagens diferentes, que ganham vida sem que eu o permita. Sei quem sou e o que sou, mas há alturas em que não me vislumbro e me torno incapaz, manietada entre razão e emoção, de saber o que fazer ou, sequer, se poderei realmente fazer alguma coisa. Com difculdade me encontro neste remoinho desarranjado que me cerca e a todo o custo tento preservar a clareza de espírito que me permita levar a bom porto esta tarefa tão ingrata quanto maravilhosa que é Ser Mãe.

08 agosto 2009

Bom Dia, Meu Amor!


Como todos os dias, amanheci contigo no pensamento e as tuas palavras pintam-me as horas que faltam num tom dourado-sol.
Corres-me nas veias, misturado no meu sangue e enches-me de vida.
Fazes parte de mim, dos meus sonhos e da minha realidade, das minhas noites sós e de todas as horas a dois em que cavalgamos juntos para além de todas as fronteiras da imaginação.
É-me já impossível desenhar um tempo em que não pertenças e um espaço que não esteja marcado pela tua presença.
Caminho misturada contigo, numa solução indissolúvel de aromas, quereres e sabores.
Nada falta a esta combinação harmoniosa, apenas entrecortada por estes instantes-dias de saudade que a tornam ainda mais desejada, neste viver profundo que partilhamos.
- Bom dia, meu Amor!...Todos os dias.

07 agosto 2009

Gotas de Saudade

Hoje acordei de mau-humor. Um humor sombrio que marca um daqueles dias em que nada me apetece e só com grande esforço consigo prosseguir a rotina destes dias intermináveis que me deixam triste.
É um daqueles dias em que tenho de me concentrar e procurar com afinco a réstea de força escondida para não me deixar cair no desalento.
É estranho... ou talvez não...mas parece que, nestes dias, nem de propósito, tudo acontece ao contrário do que se espera e uma série de coincidências se juntam para os tornar mais pesados.
Ou será apenas a minha disposição que me faz sentir assim, nestes dias... em que não consigo limpar as gotas de saudade que me molham o coração...

02 agosto 2009

Elos de Liberdade


Podia dizer que estes dias intermináveis são vazios de graça e vontade porque o tempo mos roubou, mas não. São dias diferentes, sim, com um quê de amargo... que se dissolve no doçura do antes e do depois, num mar pacífico duma envolvência profunda que amortece as dores e dá à saudade aquele travo doce de um apetecido manjar que se aguarda ansiosamente.
Durante muito tempo sonhei ser livre, solta de prisões, de falsas amarras, de hipócritos conceitos de vida.
Um dia cortei as cordas que me prendiam em mim e voei...
Só depois descobri onde estava a minha verdadeira liberdade!
Teci fios novos, transparentes, belos e verdadeiros. Fios que se juntaram e se entrelaçaram em elos firmes de afinidade, sinceridade, honestidade, cumplicidade, confiança e Amor.
Elos que me prendem fortemente e que desejo se prolonguem à eternidade porque me trouxeram a Vida como desenhei e ambicionei. Aquela Vida em que o Amor é o valor supremo que tudo comanda e não se deixa enlear pela sociedade de mentira em que vivemos.
Hoje sinto-me forte, com uma firmeza que desconhecia e uma confiança no futuro que nunca antes experimentei...
...Apenas porque sim, Apenas porque fazes parte da minha Vida!

01 agosto 2009

Retrato De Um País

O mês de Agosto chegou finalmente! De malas arrumadas, milhares de portugueses iniciam os tais dias de "merecido" descanso...neste país onde o caos é total. Sigamos esta breve análise feita há dias por... Miguel Sousa Tavares Expresso, 27 de Junho de 2009
"Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, faço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê: - É sempre assim, esta auto-estrada? - Assim, como? - Deserta, magnífica, sem trânsito? - É, é sempre assim. - Todos os dias? - Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente. - Mas, se não há trânsito, porque a fizeram? - Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto. - E têm mais auto-estradas destas? - Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me. - E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões? - Porque assim não pagam portagem. - E porque são quase todos espanhóis? - Vêm trazer-nos comida. - Mas vocês não têm agricultura? - Não, a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável. - Mas para os espanhóis é? - Pelos vistos... Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga: - Mas porque não investem antes no comboio? - Investimos, mas não resultou. - Não resultou, como? - Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou. - Mas porquê? - Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos. - E gastaram nisso uma fortuna? - Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos... - Estás a brincar comigo! - Não, estou a falar a sério! - E o que fizeram a esses incompetentes? - Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro. - Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo? - Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km. Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não. - Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto? - Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota,para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações. - Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa? - Isso mesmo. - E como entra em Lisboa? - Por uma nova ponte que vão fazer. - Uma ponte ferroviária? - E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa. - Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros! - Pois é. - E, então? - Então, nada. São os especialistas que decidiram assim. Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la. - E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta... - Não, não vai ter. - Não vai? Então, vai ser uma ruína! - Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar. - E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras? - Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa! - E vocês não despedem o Governo? - Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo... - Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro? - Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade. - O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia? - A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV. - Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter? - É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade. Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás: - E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê? - O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa. - Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo? - É isso mesmo. Dizem que este está saturado. - Não me pareceu nada... - Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP. - Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível? - Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido. - E tu acreditas nisso? - Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo? - Um lago enorme! Extraordinário! - Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa. - Ena! Deve produzir energia para meio país! - Praticamente zero. - A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber! - A água não é potável: já vem contaminada de Espanha. - Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso? - Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais. - Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada? - Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor. Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente: - Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos? - Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez. Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou: - Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!" Será que nem assim nós vamos abrir os olhos e, por uma vez que seja, agir?!!!!