03 outubro 2010

Naquele Banco

Naquele banco do jardim havia uma silhueta permanente, fizesse chuva ou descesse um tórrido estio em meados do Verão. Aquele contorno parecia amarrado naquele assento fazendo dele a sua eterna morada. Até quando as sombras da noite chegavam se viam aquelas linhas desenhadas contra os fios de luz que desciam do velho e poeirento candeeiro lá no alto.
De dia as aves acorriam em bandos debicando as míseras migalhas de pão que sobravam das parcas refeições de quem ali descansava o corpo tiritante. Já se aproximavam sem medo, conhecendo de longe aquela figura, companheira de tantas horas.
No entardecer, eram os cães que deambulavam por ali que se chegavam, procurando um afago, uma festa, um pouco de afecto...que os mantivesse "quentes" no frio da noite que caía.
De quando em quando levantava-se e dava algumas trémulas passadas, de pernas gastas e arqueadas, como se o peso da vida fosse imenso e os ombros já não o aguentassem. Logo mais, voltava ao refúgio de tábuas de madeira pintada, mas de tinta já estalada e desbotada pela erosão dos dias, de mil sóis, mil ventos e tantas noites de solidão.
Nas mãos já pouco se distinguia das linhas antigas, mas ainda se adivinhava que teriam sido fortes e serenas. O porte, agora já encurvado pelas tristezas, deixava transparecer reminiscências antigas de hombridade e coragem. E aqueles olhos...naqueles olhos ainda se descortinava uma réstia de chama, já quase apagada, mas que certamente terá iluminado muitas vidas...
Um dia também eu me sentei naquele lugar. Quis saber quem eram aqueles traços que desde sempre ali conheci.
Era apenas um homem, uma vida...um ser humano que de solidão vivia, no meio da multidão que passava e lhe dava pedaços de pão...

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