22 dezembro 2009

Uma História de Natal

Lembro-me de, bem pequena, passar a noite quase em claro à espera do primeiro raio de claridade que anunciava aquele dia mágico. Logo ao alvorecer voava direita à chaminé e deliciava-me a desvendar os mistérios escondidos atrás dos papéis e laços coloridos, mesmo até quando alguns já tinham sido deslindados em espreitadelas furtivas pela porta entreaberta de um armário quase sempre bem fechado. "Ohs! e "Ahs!", risos alegres e olhos brilhantes em rostos suaves eram contemplados pelos mais velhos, que denunciavam a sua emoção embevecida nas pequenas lágrimas que teimosamente insistiam em humedecer-lhes os olhos. Não havia árvore de natal nem enfeites brilhantes, apenas a humildade de um pequeno presépio iluminado pelas luzes trémulas de pequenas velas, mas aquela atmosfera transpirava amor e afecto. Nunca importava realmente o que era descoberto dentro dos embrulhos vistosos, o que me fazia sentir bem era aquela ambiência de "Lar" que me envolvia docemente num apertado abraço e que guardarei para sempre no meu coração. Durante muito tempo tudo prosseguiu igual e tradição e significado permaneceram bem acesos, mesmo em tempos difíceis que se viveram. Anos depois tudo se desmoronou quando estes dias, em vez de mais unirem pessoas, almas e corações, obrigavam a escolhas difíceis, opções de sentimentos e, numa encruzilhada onde nunca era fácil saber qual o rumo a seguir, alguém sempre se tinha de deixar para trás e se seguia dividido e incompleto. Nunca nada voltou a ser igual, embora chegassem tempos de semelhança quando novas faces brilhantes, de olhos ávidos, devoravam, impacientes, as luzes que brilhavam e dedos teimosos esburacavam os papéis em tentativas de descoberta. Mas parece que tudo se foi...Hoje, ressaltam risos, tristezas, gargalhadas e lágrimas solitárias, numa amálgama de emoções contraditórias que não permitem a felicidade plena. ...o "Dar" fica amarrotado e sai desafinado, como uma viola velha e maltratada pela humidade dos tempos, assemelhando-se ao mero cumprimento formalizado daquela obrigação a que não podemos fugir. As presenças são marcadas pela obrigação ou por não existir opção. Sentem-se no ar revoltas e amarguras ...e os estragos na alma que se exige "perfeita" começam a ser irreparáveis... E quando apenas se quer paz e harmonia, o coração parte-se... Uns pedaços, chorando, acompanham quem, na distância, sempre se mantém presente mesmo quando, querendo sem querer, segue noutra viagem ...outros ficam, quebrados, doridos e cansados, querendo apenas o aconchego quente e repousante do silêncio, o alumiar suave da pequena vela que simboliza uma enorme luz que brilha, sempre crescendo, no coração...

1 comentário:

  1. Enfim, a vida é assim mesmo! Restam as velhas lembranças de belos momentos outrora vividos, e, as saudades de ser novamente criança...

    Gostei deste espaço e das memórias que este post me relembrou.

    Abraço,
    CR/de

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