04 novembro 2010

Insanidade Consentida

Ainda me espanto com o meu espanto!
Espanto-me com o meu espanto porque meio século de existência já deveria ser suficiente para ter entendido a profundidade do analfabetismo da espécie que me circunda, a tal de "Homo sapiens sapiens" e que, tenho hoje a certeza, guardou os apelidos na gaveta e se contenta em exibir, com vaidade, o nome próprio. Sim, esta espécie de nome Pessoas!... Se o são ou não, ou que conceito deste Ser praticam, são questões que cada um terá de colocar a si próprio...
Meio século deveria ser suficiente...mas não é.
Espanto-me com esta raça que, bem mais grave que o analfabetismo cultural, exibe um completo analfabetismo de Vida e de Sentir, os únicos campos em que os mestrados não vêm escritos em papéis e se adquirem de uma única forma, Vivendo Sentindo.
De que servem tantos conhecimentos adquiridos, tantos procedimentos aprendidos, tantos livros lidos, tanta inteligência..., quando se limitam a utilizá-los em meras práticas estereotipadas de rotina e/ou técnica e não os sabem utilizar quando se mostram realmente necessários na vida?...
Segundo alguém já disse, "sabedoria é o que em nós reside quando já nos esquecemos de tudo". É esta realmente a sabedoria da vida, analisar e pensar os que nos cercam e entendê-los à luz do que interiorizámos ao longo do tempo que por cá andamos.
Mas não é o que vejo!
O que se me depara é a mais completa ignorância e a maior alienação do Saber e do Sentir.
Esconde-se a cabeça [...e o coração...] debaixo da capa do "disseram-me...", do "...é assim..." e, claro, da máscara do parecer bem, porque muito mais importante do que Estar Bem é paracer bem, nem que, para tal, se cometam atrocidades contra o Sentir.
As acções que se praticam não se destinam, na verdade, a resolver ou a ajudar, mas apenas a apaziguar as culpas e os conflitos interiores que, por falta de consciência e coragem em resolver [e até de os admitir], se permite que conduzam a existência. Não se É, finge-se ser, não se Está, finge-se estar.
E vive-se...ou melhor, finge-se que se vive gastando os dias, num perpétuo e contínuo "deixa andar" mental e emocional, infernizando todos os minutos dos que, esses sim Sábios de Vida, procuram as causas, os meios e os fins, dos que se preocupam não com a forma mas com o conteúdo Humano, não com a imagem mas com a Realidade.
Poderão dizer que estou amarga. Mas não, já não é uma questão de amargo ou doce, insonso ou salgado, é bem pior. É uma repulsa que me revolve as entranhas e que quase me obriga a fugir.
A única razão de não o fazer é ter o privilégio de conviver com um dos ainda existentes mas raros Sábios de Vida, que sabe o que quer, sabe o que diz e sabe o que sente. Que ouve, entende e sente o que digo e sinto e, não se compadecendo com os "mais ou menos" da vida, persiste na descoberta da mais pequena partícula do meu ser.
Os outros, façam-me um favor, já que não têm sequer coragem para se matarem, escondam-se! Não mostrem a vergonha que são ao mundo, ele já está suficientemente insano!

1 comentário:

  1. Minha amiga,
    A vida é um exercício constante de querer e para isso temos de nos entregar totalmente. Uns circulam outros vivem. Os que simplesmente circulam andam muito mais preocupados com o bem parecer e de repente atravessam para o outro lado, sem sequer ver e pensar e, só quando ouvem o chiar dos travões olham mas já é tarde.
    Os outros, os que vivem e sentem conseguem ultrapassar todos os obstáculos com base na sua persistência e no acreditar na sua verdade.
    Sabes amiga, os verdadeiros sábios desta vida são aqueles que se olham, que se interrogam e se corrigem para assim continuarem firmes, íntegros e respeitando quem os respeita.
    A vida é de uma tal simplicidade que confunde os que não pensam e provoca-lhes a pior doença que existe, o "coitadismo" que acompanhada das altas febres do "umbiguismo" lhes provoca um mal estar constante e os leva ao desepero de ver um sorriso de felicidade nos que vivem profundamente.

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